No Brasil, “montagem” é um termo normalmente mais relacionado com o cinema e “edição,” com a televisão. Na prática eles muitas vezes são usados de forma indistinta, mas na teoria de cinema alguns autores estabelecem diferenças entre os dois conceitos.
“Cortar [cutting] ou editar [editing] um filme é ligar os planos fisicamente na ordem em que eles devem ser projetados” (Kawin, 1992: 49)
“Planos e cortes compõem praticamente todo o mundo visual do filme, tanto quanto as palavras e sua ordem compõem a frase, ou uma sequência de frases torna-se um livro. O termo genérico para o que foi organizado no âmbito do plano é mise-en-scène. O termo genérico acerca de como os planos estão ligados é montagem [montage] (Estes são dois dos mais importantes e problemáticos termos nos estudos de cinema ...) [...] o espectador interpreta a montagem para estabelecer o que esses pontos de vista distintos podem ter a ver um com o outro” (Kawin, 1992: 51).
“A edição [editing] é a arte de tomar decisões sobre o comprimento do plano, seleção e sequenciamento. Corte [Cutting] é o ato de emendar pedaços de filme. Decidir o quanto incluir de um plano em um filme, sugerir e manipular sua matriz interpretativa, cortando entre dois planos, é o trabalho do editor do filme” (Kawin, 1992: 436).
“Quando um filme é feito de mais de um plano, a edição entra em jogo. Quando um plano não se limita a seguir um outro e sua justaposição tem um significado dinâmico, não se trata de edição, mas de montagem. O termo francês para a edição de continuidade é découpage: ele denota uma sequência ordinária de cortes, onde um plano segue o outro de um modo linear e fácil de se acompanhar. “Montage” - do verbo francês "monter”, “subir, montar ou juntar" - indica a forma como é montado um plano ao lado de outro, mas não tem a conotação de uma ascensão ou de efeito intensificado. Montagem, então, é a arte de reunir planos separados em um sistema dinâmico” (Kawin, 1992: 98).
Kawin, Bruce.
How Movies Work. Berkeley: University of California Press, 1992
“Como a edição é uma forma de comunicação, tem havido uma tendência perene na história da teoria do cinema em associar a edição com o paradigma da comunicação, linguagem [...] Para compreender a edição devemos entender isso como uma forma de comunicação, sem tentar reduzí-la a um modelo de escrita e leitura” (Carroll, 1996: 403).
Carroll, Noël.
Theorizing the Moving Image. Cambridge University Press, 1996.
Edição pode ser pensada como a coordenação de um plano com o próximo. Como vimos, no filme, um plano é um ou mais fotogramas expostos em série, em uma extensão contínua de película. O editor de cinema elimina as imagens indesejadas, normalmente descartando todas, menos a melhor tomada. O editor também corta fotogramas supérfluos, tais como os que mostram a claquete, no começo e no final dos planos. Ela ou ele, em seguida, junta os planos desejados, o fim de um no começo do outro (Bordwell e Thompson, 1995: 271).
Bordwell, David e Thompson, Kristin .
Film Art. New York: McGraw-Hill, 1995.
Como vimos em sala, Alfred Hitchcock tem sua opinião sobre tais termos, preferindo a palavra "assemblage", que não tem um equivalente em português. A entrevista do diretor pode ser assistida nesse link (a incorporação dele no blog foi desativada pelo YT):
http://www.youtube.com/watch?v=2FoYrmNICYc .
Tanto a definição preferida e demonstrada por Hitchcock, como as expressas nos textos acima não devem ser tomadas como dadas, mas discutidas aqui e em sala, não para chegar a algo definitivo, mas para tentar compreender o processo como um todo, que prefiro ver como parte de toda a produção de cinema e não apenas da chamada pós-produção, aquela que ocorre após as filmagens (até porque a montagem pode muito bem começar durante as filmagens, na verdade antes delas, como vimos em sala).
Aguardo os comentários da turma.